quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Só hoje, apenas hoje.


                6:00 a.m. Me deixa mais cinco minutinhos. Me deixa dormir mais a vida inteira, me deixa no quentinho da minha cama, no vazio da minha solidão. Não, espera. Melhor não. Levanta, penteia esse cabelo, passa um corretivo pras olheiras, passa aquele perfume que você adora. Coloca aquela blusa que mostra o teu ombro e sai de cabeça erguida. Mais um dia, colega, mais um dia sem você. Só hoje, apenas hoje.
                Deixa a chave debaixo do tapete. Coloca os fones de ouvido e encara o mundo com o nariz em pé. Metida sim, antipática, também. Mas só hoje, apenas hoje. Resolve tudo da sua maneira, como bem entender. A vida é sua, o amor também. Eu só queria te esquecer. Eu só queria deixar de te amar, só hoje, apenas hoje.
                Tava tudo muito bem, não tinha sequer cruzado com você nessa nossa cidade tão pequena e eis que surge, com um violão pendurado nos ombros e segurando a mão do seu irmão. Guarda o violão no carro, vem me cumprimentar. Tô atrasada, desculpa. Tô sem tempo pra mim, sem tempo pra você, sem tempo pra nós dois e sem tempo pra te encarar, olho no olho e admitir pra mim mesma que o que eu sinto é amor mesmo. Mas só hoje, apenas hoje.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Without you


                O galo da vizinha cantava perto da minha janela. Porcaria, porque em plena cidade ela ainda tem um galinheiro? Dá pra sentir o cheiro daqui da minha casa, deve estar tão sujo quanto o meu cabelo, não-lavado-na-noite-passada. Me levanto, me arrumo, mas o vazio continua aqui dentro. Saio de casa, vou pro meu destino, e o vazio continua aqui. Será fome? Mas eu nunca sinto fome de manhã...
                Chegando lá eu vou conversar com as mesmas pessoas de sempre, vou me sentar no mesmo lugar de sempre e ter as mesmas aulas maçantes. Isso já tá me cansando, tanto quanto a minha indecisão, a minha confusão e o furacão de sentimentos, emoções e pensamentos que passam pela minha cabeça. Opa, o sinal bateu. Droga, esqueci de tirar aquela dúvida sobre átomos com o professor. Fica pra próxima, e assim eu vou adiando o assunto, como faço quando se trata de você.
                Aula de Física. Mais 45 minutos pensando no que eu poderia ser se tomasse essa atitude. No que eu poderia me tornar, no que nós nos tornaríamos. Sinto de leve o seu perfume e aí me dou conta de que você esteve sentado do meu lado o tempo todo. Espera aí, você tá olhando pra cá. Ah, saco, só porque hoje eu me deixei sair sem esconder as olheiras de uma noite inteira pensando em uma pessoa só. Você.
                Eu te encaro, você sorri, eu sorrio de volta e ficamos nos olhando por mais alguns instantes. Meu amigo me tira dos meus devaneios, me faz acordar pro mundo real, o mundo de verdade, sem você. Ele me fala sobre a festa, mas eu só quero saber se você vai estar lá. Ah, meu Deus, você está vindo pra cá. Espera, está se sentando na carteira da minha frente. Não vira pra cá, não vira pra cá, não vira... Virou.
                Você está falando sobre algo como um presente pro meu amigo. Eu não escuto nada, só balanço a cabeça afirmativamente. Não me importo se você me perguntou se está bom se der um álbum de figurinhas de presente de aniversário. Tudo o que eu consigo pensar é em como seria bom se você fosse meu, só meu, e como seria ótimo se eu pudesse sentir o seu beijo novamente. 


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Eu quero seu beijo outra vez.


                As lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto. Estou enrolada em três cobertores mas, mesmo assim, meu coração permanece frio e teimoso. Eu entendo, ele não quer sofrer de novo. Eu também não. A chuva ainda tá caindo lá fora e, ah, como eu amo a chuva. E eu bem que precisava de uma dessas aqui pra lavar a minha alma, levar embora toda a culpa junto com a enxurrada. Não consigo entender. Apaixonada de novo? Amando outra vez? Será que já esqueci? Será que posso me arriscar de novo, tentar novos amores, novos sentimentos?
                Admito que nunca mais senti as mesmas borboletas no estômago pela mesma pessoa. Mas hoje senti uma coisa por você que nunca tinha sentido antes, ao ver a minha amiga brincando com você. Suas faces estavam tão próximas que eu tive medo que se beijassem ali mesmo, no meio da excursão da escola. Tive medo dela roubar um beijo que eu sinto que é meu. Tive medo dela roubar uma pessoa que eu sinto que é minha. Tive medo dela roubar você. Ciúmes.
                Se você ainda gosta de mim como dizia ainda é um mistério. Eu sei, sinto muito por ter te magoado e enganado você. Ter pisado no seu coração e nos seus sentimentos como fizeram comigo tantas e tantas vezes. Eu entendo perfeitamente se disser que nunca mais quer me ver na sua frente, nem tomar meus lábios junto aos seus. Eu vou entender, juro. Mas, como minha amiga disse hoje, na saída da aula, enquanto apreciávamos o temporal cair e esperando os carros dos nossos pais, “eu nunca vou aprender se eu não me arriscar.” E eu quero me arriscar mais uma vez, quero sentir seu gosto de novo. Só me resta saber se é isso que você quer também.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

I miss you, shit!


                Era mais um daqueles aniversários de criança, o primo do meu primo, que por incrível que pareça, não é meu primo. Ok. Seu pai ligou pro nosso tio, uma tragédia tinha acontecido. Palavras dele. Mas não, tinha acontecido muito mais que uma tragédia. Você tinha ido embora do nosso mundo, pra nunca mais voltar. Eu me preocupei, senti braços, pernas e lábios formigarem. Minha pressão tinha caído bruscamente por conta da notícia. Eu não disse nada. Liguei pro meu pai, era o dia no aniversário dele. Ele nunca mais vai se esquecer. E, no momento em que o seu nome se ligou com a palavra “acidente”, meu pai desmoronou.
                Eles foram correndo pra sua cidade, eu fiquei com a minha irmã. Lembra quando enrolava ela no cobertor e a fazia girar? Eu lembro. Minha prima não parava de chorar e nossa avó não entendia nada do que estava acontecendo. Chegou meu tio, abalado demais pra pensar em outra coisa a não ser você. Ele estava no banho quando a notícia chegou. Eu ainda te acho um idiota por ter partido sem aviso prévio. Odeio você por isso. A novidade, péssima novidade, estourou em meus ouvidos como uma bomba nuclear. Minha única vontade era de me deitar na rua e esperar um carro passar por cima de mim, pra ver se aliviava um pouco a dor que eu estava sentindo. Eu queria gritar pro mundo inteiro que você tinha partido, que eu sentia sua falta mais que tudo.
                Ligaram pra nossa tia que está no Japão. Choque não resume o estado em que ela ficou. Nosso avô perguntava a toda hora se você tinha morrido mesmo. Horrível. Fomos ao seu velório. Seu amigo não conseguia olhar pra você lá, sua namorada menos ainda. Eles choraram tanto quanto eu na sua despedida. Seu avô dizia que a única alegria dele tinha ido embora. Tinha mesmo. Fomos todos ao cemitério. Hora de dizer adeus, seu irmão não queria largar o caixão pra te enterrar. Cara, odeio muito você. Sério. Por que tinha que partir assim, sem mais nem menos? Por que tinha que ir embora sem se despedir? Por que, cargas d’água teve que ir desse mundo, tão novo, tão cheio de vontade de viver?
                Já faz quase um ano e eu ainda não me dei conta de tudo isso. Não caiu a ficha, ainda acho que você está viajando. A nossa avó agora conversa, nossa priminha menor parou de perguntar sobre você, parou de dizer o seu nome. Eu tava sendo forte até agora mas não consigo ir mais longe que isso. Me machuca aqui dentro saber que eu nunca mais vou te ver. Seu irmão não fala mais com ninguém. Sua irmã age normalmente mas eu sei que ela sofre muito mais que qualquer um. Olho pra sua foto na minha cabeceira e me lembro de quando dizia que eu estava crescendo rápido demais. Por que não ficou aqui pra continuar? Eu te amo, mesmo, moleque arteiro. Nunca vou esquecer você. Me desculpe por nunca ter dito isso antes.




sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

  "Planto meu jardim e decoro a minha alma ao invés de esperar que alguém me traga flores."
                                                                              - William Shakespeare
  "Não quero me tornar uma pessoa pesada, frustrada, amarga. Não vou me tornar assim."
                                                                                        - Caio Fernando Abreu