O galo
da vizinha cantava perto da minha janela. Porcaria, porque em plena cidade ela
ainda tem um galinheiro? Dá pra sentir o cheiro daqui da minha casa, deve estar
tão sujo quanto o meu cabelo, não-lavado-na-noite-passada. Me levanto, me
arrumo, mas o vazio continua aqui dentro. Saio de casa, vou pro meu destino, e
o vazio continua aqui. Será fome? Mas eu nunca sinto fome de manhã...
Chegando
lá eu vou conversar com as mesmas pessoas de sempre, vou me sentar no mesmo
lugar de sempre e ter as mesmas aulas maçantes. Isso já tá me cansando, tanto
quanto a minha indecisão, a minha confusão e o furacão de sentimentos, emoções
e pensamentos que passam pela minha cabeça. Opa, o sinal bateu. Droga, esqueci de
tirar aquela dúvida sobre átomos com o professor. Fica pra próxima, e assim eu
vou adiando o assunto, como faço quando se trata de você.
Aula de
Física. Mais 45 minutos pensando no que eu poderia ser se tomasse essa atitude.
No que eu poderia me tornar, no que nós nos tornaríamos. Sinto de leve o seu
perfume e aí me dou conta de que você esteve sentado do meu lado o tempo todo.
Espera aí, você tá olhando pra cá. Ah, saco, só porque hoje eu me deixei sair
sem esconder as olheiras de uma noite inteira pensando em uma pessoa só. Você.
Eu te
encaro, você sorri, eu sorrio de volta e ficamos nos olhando por mais alguns
instantes. Meu amigo me tira dos meus devaneios, me faz acordar pro mundo real,
o mundo de verdade, sem você. Ele me fala sobre a festa, mas eu só quero saber
se você vai estar lá. Ah, meu Deus, você está vindo pra cá. Espera, está se
sentando na carteira da minha frente. Não vira pra cá, não vira pra cá, não
vira... Virou.
Você
está falando sobre algo como um presente pro meu amigo. Eu não escuto nada, só
balanço a cabeça afirmativamente. Não me importo se você me perguntou se está
bom se der um álbum de figurinhas de presente de aniversário. Tudo o que eu
consigo pensar é em como seria bom se você fosse meu, só meu, e como seria
ótimo se eu pudesse sentir o seu beijo novamente.
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