Era
mais um daqueles aniversários de criança, o primo do meu primo, que por
incrível que pareça, não é meu primo. Ok. Seu pai ligou pro nosso tio, uma
tragédia tinha acontecido. Palavras dele. Mas não, tinha acontecido muito mais
que uma tragédia. Você tinha ido embora do nosso mundo, pra nunca mais voltar.
Eu me preocupei, senti braços, pernas e lábios formigarem. Minha pressão tinha
caído bruscamente por conta da notícia. Eu não disse nada. Liguei pro meu pai,
era o dia no aniversário dele. Ele nunca mais vai se esquecer. E, no momento em
que o seu nome se ligou com a palavra “acidente”, meu pai desmoronou.
Eles
foram correndo pra sua cidade, eu fiquei com a minha irmã. Lembra quando
enrolava ela no cobertor e a fazia girar? Eu lembro. Minha prima não parava de
chorar e nossa avó não entendia nada do que estava acontecendo. Chegou meu tio,
abalado demais pra pensar em outra coisa a não ser você. Ele estava no banho
quando a notícia chegou. Eu ainda te acho um idiota por ter partido sem aviso
prévio. Odeio você por isso. A novidade, péssima novidade, estourou em meus
ouvidos como uma bomba nuclear. Minha única vontade era de me deitar na rua e
esperar um carro passar por cima de mim, pra ver se aliviava um pouco a dor que
eu estava sentindo. Eu queria gritar pro mundo inteiro que você tinha partido,
que eu sentia sua falta mais que tudo.
Ligaram
pra nossa tia que está no Japão. Choque não resume o estado em que ela ficou.
Nosso avô perguntava a toda hora se você tinha morrido mesmo. Horrível. Fomos
ao seu velório. Seu amigo não conseguia olhar pra você lá, sua namorada menos
ainda. Eles choraram tanto quanto eu na sua despedida. Seu avô dizia que a
única alegria dele tinha ido embora. Tinha mesmo. Fomos todos ao cemitério.
Hora de dizer adeus, seu irmão não queria largar o caixão pra te enterrar. Cara,
odeio muito você. Sério. Por que tinha que partir assim, sem mais nem menos?
Por que tinha que ir embora sem se despedir? Por que, cargas d’água teve que ir
desse mundo, tão novo, tão cheio de vontade de viver?
Já faz
quase um ano e eu ainda não me dei conta de tudo isso. Não caiu a ficha, ainda
acho que você está viajando. A nossa avó agora conversa, nossa priminha menor
parou de perguntar sobre você, parou de dizer o seu nome. Eu tava sendo forte
até agora mas não consigo ir mais longe que isso. Me machuca aqui dentro saber
que eu nunca mais vou te ver. Seu irmão não fala mais com ninguém. Sua irmã age
normalmente mas eu sei que ela sofre muito mais que qualquer um. Olho pra sua
foto na minha cabeceira e me lembro de quando dizia que eu estava crescendo
rápido demais. Por que não ficou aqui pra continuar? Eu te amo, mesmo, moleque
arteiro. Nunca vou esquecer você. Me desculpe por nunca ter dito isso antes.
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